Jornadas alquímicas de iniciação feminina pelos caminhos da Sexualidade, da Dança e da Conexão com a Natureza... (Dúnia La Luna)
"A Serpente é o entendimento de todas as coisas e a compreensão da vacuidade d'elas. Seguindo um caminho que não é o de nenhuma ordem nem destino, ela ergue-se á Altura que é a sua origem... Ela é o entendimento de tudo, a fusão dos opostos, do bem e do mal, a da valia da emoção como emoção e da vontade como vontade... " (Fernando Pessoa)



quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Quando o Feminino é um Mercado de Trabalho...

Sagrado Feminino, Sexualidade Sagrada, Espiritualidade Feminina...
Um assunto e uma força procurada, reemergente, necessária e assim também capturada por todo tipo de pensamento, comportamento patriarcal ao qual estamos condicionadas.
O dinheiro, a carreira, a visibilidade, a profissão, o ego, se tornam o objetivo principal do que se exerce e o processo e mergulho essencial são meros detalhes...
Será que o feminino sabe valorizar o Feminino? (vou mencionar Feminino com “F" maiúsculo para sinalizar a referência que faço ao seu aspecto sagrado, profundo, ligado a experiência pessoal e psicológica desta natureza. Entendendo-se por Feminino tudo aquilo ligado às sensações, ao intuitivo, aos sentidos e percepções, ao subjetivo e à guiança pelo coração.)

Como mulheres modernas, fruto de uma geração dirigida pelo patriarcado, somos condicionadas à critérios baseados em títulos e rótulos. Existem certificados e diplomas que empoderam e desempoderam pessoas para assegurar das qualidades para tudo aquilo em que decidimos investir nosso tempo e nosso dinheiro.
É assinando papéis, apreciando rótulos, seguindo regras, exigindo formações e catalogando objetivos, que deixamos atrofiar nosso "faro", nosso "radar" e a confiança nas nossas sensações.

É muito comum as pessoas escolherem pelo rótulo, pelo nome, confiarem em contratos (não em pessoas) e frequentarem locais pela publicidade.
Esse modelo qualitativo que enforma nossas capacidades o nos classifica (melhores ou piores) faz com que, por trás de toda a poética e da real necessidade em legitimarmos os valores Femininos,  fiquemos "correndo atrás da própria cauda” pois como boas filhas do patriarcado repetimos o seu padrão!
E se o assunto é conexão com o Feminino, uma vez que se tornou um mercado profissional, porque ser diferente?
Pois devo dizer que conectar-nos com o Feminino é investir completamente no oposto a tudo isso... Começando pelo fato de que eleger o que é melhor pela formação, títulos e divulgação midiática é perder a oportunidade de ouro de reestabelecermos a mais básica relação íntima com nossas sensações e nosso discernimento instintivo logo no início da jornada.
Pois há tempos que esse patriarcado dentro de nós nos subtrai o discernimento para escolher aquilo que realmente nos favorece.

Em contrapartida, entre nós, que sustentamos círculos e partilhamos caminhos ligados ao Feminino, sinto uma torturante e silenciosa corrida em busca de formações mirabolantes que nos confiram (umas sobre as outras) algum tipo de superioridade, por exemplo, hipoteticamente, "Especialista em Femenologia", como que para transmitir "segurança" ou atrair mulheres que estão buscando.

Fazer escolhas de modo racional e científico precisa ser modificado no comportamento que anseia ancorar o Feminino pois se continuarmos assim, além de toda incoerência, sem perceber diminuímos o valor daquelas mulheres que estão antes de nós e que são dotadas mais de suas vivências e experiências de muito tempo, (e que as vezes não tem nenhum título) e são de uma época (bem pouco tempo atrás) em que o que capacitava guiar outras mulheres era a disposição de autotransformação ininterrupta e uma visão profunda da vida.

Ao meu ver nós que sustentamos círculos e apoiamos outras mulheres em seus caminhares somos responsáveis em disseminar ou estancar esse modelo de reprodução/formação no que se refere a Feminino!
É nossa responsabilidade nos liberar da ideia equivocada de que os títulos ou formações nos garantem algo...



Veja, isso NÃO significa não estudar, não pesquisar... Significa seguir o "faro", acima de tudo, na busca de pessoas que estão aptas a nos apoiar. Sentir é diferente de racionalizar os caminhos da vida!
Seguir o "faro" é  olhar em torno de nós mesmas antes e PERCEBER as pessoas que estão  ao nosso redor (as vezes amig@s) com criações que admiramos, que nos sentimos afins fortalecendo-as e vendo nel@s possibilidades e não competição.
É buscando apoio com quem amamos e admiramos que investimos no Feminino e nos fortalecemos!
Seguir o "faro" é pôr em risco nosso Ego investindo umas nas outras, estabelecendo fluxo de confiança e apoio mútuos.
Embora não tenhamos com isso nenhum título ou formação, teremos apoio e confiança mais tarde também em nós mesmas para andar os nossos processos com os próprios pés! Isso é a definição de construir a Teia juntas e nada diferente disso!Seguir o "faro significa sermos honestas com nosso tempo de maturação (independente de tempo de curso) para cada coisa que sentimos partilhar com outras pessoas.

Nos tornamos maduras quando paramos de ser reprodutoras, por direito de título ou levianamente, e nos tornamos criadoras/catalizadoras.
Estamos maduras quando somos capazes de creditar e referenciar as criações que admiramos em nosso em torno, sem nos sentir ameaçadas, mas nos sentirmos humildes para aprender com outras como nós e assim também sentirmos pouco a pouco que somos capazes de correr o risco de assinar nossos caminhos, sem que ninguém ou nenhuma instituição nos garanta.

Quando se trata de Feminino, uma mulher com uma experiência profunda da vida certamente será mais preparada do que qualquer instituição ou pessoa que tenha (ou que ofereça) mil formações.
É nisso que se deve investir quando se trata de FEMININO!!!

Para nós, mulheres que se partilham, comprometidas com os caminhos de transformação, as referências de pessoas que confiam e passaram por nós são apoios que nos legitimam e são importantes!
Elas acontecem de modo informal, circular, por indicação e vai num crescente como uma espiral: quanto mais vivência, mais elos, mais referências boca a boca,,,
Pois não somos  pessoas com grandes organizações atrás de nós. Se temos coerência com o que disseminamos, sabemos que a liberdade é elemento primordial para realizarmos as nossas mudanças a nosso tempo, ao tempo da Alma, que é muito impermanente para sustentar os medos do ego e metas financeiras de locais demasiados comerciais!
As vezes estar aliada à empresas e locais comerciais nos enreda ou pelo suporte financeiro (onde deixamos de saber caminhar sem tantos recursos) ou nos enreda por uma  lealdade de retribuição com algo que já não ressoa mais em nossa alma. E então enfraquecemos nosso processo, fortalecendo mais uma vez o padrão antigo!
Sei o que falo, pois, meus 22 anos de caminhada me mostraram mais de uma vez o que é ter "rabo preso".
Aprendi minha lição e partilho-a... Devemos ter autonomia completa em nossos caminhos e livres de qualquer laço apertado mesmo que ele seja lindo e aveludado para apoiar verdadeiramente outras mulheres.

Apoiar é estarmos comprometidas com as jornadas necessárias para cada uma mergulhar em suas questões e raízes e esse compromisso envolve inclusive reconhecer quando aparecem processos que não somos capazes de acompanhar por que não temos bagagem suficiente, e nos sentir em paz  isso. Por isso existem tantos diferentes talentos, para indicarmos e encaminharmos quem não podemos atender na totalidade.

Mas se há promessa de formação haverá rótulos, sentimento de competição e cumprimento de cronograma num tempo fixo...
Se em nosso caminhar sentimos que é preciso acumularmos muitos títulos ou muitas buscas e aprovações, seja lá de que tipo for, acabamos também por disseminar esse comportamento e sentir necessário ofertá-los ás mulheres de nossos grupos que sintam chamados para se tornarem condutoras. Repetindo o velho padrão de insegurança!
Ofertar formações e títulos nos caminhos do Feminino como um licenciador é trair o Feminino porque gera exatamente o que queremos drenar no modo de vivermos: controle, poder, comparação, dependência e insegurança de andar sem tantos títulos!
Digo isso com todo respeito e um certo pesar compreensivo que tantas mulheres incríveis caiam nessa cilada. Alerta! O nosso sistema é criado para tropeçarmos o tempo todo...
Nosso ato compulsório é trair nossas Almas o tempo todo, ganhamos treino em desacreditá-la desde sempre.

E aliar-se ao caminho Feminino propõe mudarmos essa compulsão de nos trair!
Sem contar que não somos aptas a sermos apoiadoras nesse caminho o tempo todo, e num caminhar que não visa cumprir um cronograma fica orgânico o emergir de outras aptidões em nossos variados ciclos.

Se gastamos tempo e energia em conquistar títulos, o que nos resta para mergulharmos no que é verdadeiro para nós?
Se nos interessa nomes e publicidades, que espaço existe em nós para chegar as pessoas necessárias para apoiar nossos caminhos?
Uma boa guia necessita VIVENCIAR-SE, CONHECER-SE, necessita PAUSAR-SE vez ou outra e isso tem um tempo diferente a cada uma.
Quando se trata de Feminino a publicidade NÃO é a alma do negócio. Nem o estabelecimento, nem o rótulo e nem o tamanho dos grupos que se agregam em consequência de um marketing!

Para as mulheres contemporâneas, seguir o Feminino não é uma tarefa fácil, pois é participar de fato o tempo todo de sua própria transformação. É constatar que seguir os instintos é ir contra tudo o que se aprendeu ser correto. Não é cômodo, muito menos uma via fácil para se ter status. Mas é um caminho seguro para a Alma, dotado de liberdade em todos os sentidos: emocional, espiritual, sexual, psicológico.

E para isso ter força é necessário apoiarmos muito mais as pessoas do que os títulos e instituições.

Porque o que nos autoriza vem de uma via diferente...  vem da qualidade das relações, do questionar a vida; pelas experiências e vivências desafiadoras psico-corporais-espirituais que nos oferecem nossas fases enquanto mulheres!
Vem do quanto arriscamos nos conhecer, depois do risco de confiar em nós mesmas, mesmo sem ter um documento que nos atribua uma autoridade.
É a boa vivência nas prática de crises e encorajamentos que vivenciamos em nós mesmas e nas mulheres que amamos.

Correr o risco de vivenciar a nós mesmas enquanto corpo, ciclo, sexualidade, sentimentos, fases, envelhecimento, luz e escuridão é uma bagagem que legitima a autonomia e autoridade nos assuntos do Feminino!
Pra quem está começando, como saber quem escolher? 
Faz parte da própria jornada a escolha pelo instinto, o exercício do "faro"!
Faz parte correr o risco de confiar nas nossas sensações e isso é Feminino!

Começando pelas pessoas que atraímos para nosso aprendizado e aquelas que escolhemos caminhar, trocar, compartilhar e aprender, vamos recuperando o "radar", o elo de ligação profunda com a vida, com a terra e umas com as outras.
Investir em nossos talentos, usar o que já possuímos, ter coragem de ir em frente e se expor, mesmo sem um papel que nos dê “licença”, e confiar em nós mesmos, simplesmente porque sim, de fato é mudar um padrão!

E, embora seja realmente uma escolha e um portal que atravessamos solitariamente, nós não estamos sozinhas. Dizem que quando o aluno está pronto, o mestre aparece. Com um pouco de sorte, entendemos  que os mestres são de mão dupla e encontramos não uma mas muitas no caminho onde os mistérios mais profundos do Feminino possam ser recebidos.

Entre mulheres de confiança, podemos, efetivamente, nos fortalecer, nos expor, compartilhar e exercer o discernimento com escolhas que realmente enalteçam a nossa essência!
Um grande obrigada à todas fortalecedoras e guias do meu caminhar... Em especial à minha querida. Layla Blummer, iniciadora nos mistérios, que me ajudou a mirar o espelho, a enfrentar a sombra e a reconhecer a luz.

(Texto: Dúnia La Luna)

(Referências das Figuras: 1-Afonse Osbert, 2-Katlyn Breene, 3- Patrícia Ariel - 4-William Waterhouse)

5 comentários:

  1. Dunia querida. Você é uma das poucas mulheres que conheci que tem uma luz e uma postura manifestante do Feminino. Vc disse tudo. Seja Abençoada.

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    1. Jussanya, só vi agora seu comentário.
      Me alegra saber que move. Grata!

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  2. Ju querida, agradeço seu apoio tão importante pra legitimaram nossa teia!!!
    Bj grande com saudades

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  3. Olá Dúnia,
    Muito oportuno seu texto!
    Estive recentemente no Encontro de Círculos de Mulheres aqui em São Paulo e fiquei chocada com esse aspecto comercial tão explícito, uma verdadeira mercantilização do feminino...
    Bjs

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    1. Infelizmente ainda temos muitos condicionamentos patriarcais é como aprendemos que as coisas são, mas creio que seja somente uma passagem e que muitas mulheres estão começando a perceber a que o fluxo é outro. E que jogar outro jogo é sair do jogo!
      Obrigada por comentar.
      Desculpe a demora no retorno!
      bj

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